Prémio Árvore da Vida atribuído a Nuno Teotónio Pereira


O arquitecto Nuno Teotónio Pereira foi distinguido esta semana com o Prémio Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes.

O Prémio de Cultura Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes – foi instituído pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura e procura destacar anualmente um percurso ou uma obra, onde os valores do Humanismo e da Experiência Cristã se achem reflectidos, e conta com o patrocínio da Rádio Renascença. Poderão ser premiados indivíduos ou instituições, entre a pluralidade das expressões artísticas e culturais do espaço português.

Numa declaração oficial o júri informa que «Na oitava edição do Prémio Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes, o júri deliberou, por unanimidade, atribui-lo ao arquiteto Nuno Teotónio Pereira. (…) Num momento nacional dramático para a Arquitetura, profissão que tem sido duramente flagelada pela crise económica, pensamos que a estatura ética e criativa de Nuno Teotónio Pereira representam uma lição de humanidade para todos nós e uma luz oportuníssima para pensar o lugar e o modo da Arquitetura reinscrever-se no presente e no futuro.»

Este ano o Júri do Prémio Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes teve a seguinte constituição: D. João Lavrador, Vogal da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais; Cónego João Aguiar Campos, Presidente do Conselho de Gerência da Rádio Renascença, patrocinadora deste Prémio, que se fez representar; António Vaz Pinto S.J., Diretor da Revista “Brotéria”; Guilherme d’Oliveira Martins, Presidente do Centro Nacional de Cultura; Maria Teresa Dias Furtado, Professora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, que se fez representar; e José Tolentino Mendonça, Diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.

Um dos membros do júri do prémio, o Padre José Tolentino de Mendonça, em declarações à Renascença, lembra o contributo dado pelo premiado na concretização de algumas igrejas emblemáticas do século XX em Portugal. “O arquitecto Nuno Teotónio Pereira foi o primeiro presidente de um histórico movimento que existiu em Portugal, o MRAR (movimento para a renovação de arte religiosa), que era uma comunidade de artistas de várias disciplinas que procuraram em Portugal fazer a recepção do espírito do Concílio Vaticano II. À assinatura do arquitecto Nuno Teotónio Pereira devemos algumas igrejas emblemáticas do século XX português”. E acrescenta que o exemplo deste “grande criador português” vai ser “um grande estímulo e um modelo” para as gerações presentes e futuras. “Estamos a premiar a capacidade que uma vida e um percurso têm de fecundar o seu tempo. A pessoa, o testemunho e a obra do arquitecto Nuno Teotónio Pereira são uma ‘árvore da vida’ no contexto português”.

Esta é a oitava edição deste prémio que já distinguiu o poeta Fernando Echevarria, o cientista Luís Archer s.j., o cineasta Manoel de Oliveira, a professora de Estudos Clássicos Maria Helena da Rocha Pereira, o político e intelectual Adriano Moreira, o trabalho de diálogo entre Evangelho e Cultura levado a cabo pela Diocese de Beja, e o compositor Eurico Carrapatoso.

1.ª edição (2005): Fernando Echevarria

2.ª edição (2006): P. Luís Archer, SJ

3.ª edição (2007): Manoel de Oliveira

4.ª edição (2008): Maria Helena da Rocha Pereira

5.ª edição (2009): Adriano Moreira

6.ª edição (2010): Diocese de Beja

7.ª edição (2011): Eurico Carrapatoso

O galardão será entregue ao arquiteto Nuno Teotónio Pereira em Lisboa, em data a anunciar.

Sobre o Arquitecto Nuno Teotónio Pereira – Nasceu em Lisboa a 30 de janeiro de 1922 e diplomou-se na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, em 1949. Mas já um ano antes, quando era apenas estudante finalista, a sua comunicação no Congresso Nacional de Arquitetura, onde versou o tema “Habitação Económica e Reajustamento Social”, anunciava um paradigma de arquitetura comprometida com os direitos fundamentais da pessoa humana e com a transformação estética e política do mundo. Teotónio Pereira haveria de trabalhar, durante décadas, como consultor de Habitações Económicas na Federação das Caixas de Previdência, tendo lançado o primeiro concurso de soluções arquitetónicas para habitação de renda controlada. Foi também relator do primeiro plano sectorial de Habitação – Plano Intercalar de Fomento – documento pioneiro na identificação das carências habitacionais do nosso país Em 1952, juntamente com artistas plásticos (lembramos José Escada, Jorge Vieira, Cargaleiro, Madalena Cabral, Eduardo Nery…) e os arquitetos Nuno Portas, Luís Cunha, Diogo Lino Pimentel, Formosinho Sanches, entre outros, fundou o Movimento para a Renovação da Arte Religiosa (MRAR), de que foi o primeiro presidente. O artigo 1º dos estatutos do MRAR definia-o como “uma comunidade católica de artistas, com o fim genérico de promover, em todos os domínios da arte religiosa, o encontro de uma verdadeira criação artística com as exigências do espírito cristão” (“Estatutos”, Artº 1º). O Movimento para a Renovação da Arte Religiosa daria um contributo decisivo à receção, por parte da Igreja portuguesa, do espírito do Concílio Vaticano II, vindo a constituir uma página histórica e exemplar no necessário diálogo entre a Fé e a Cultura. Atividades marcantes do MRAR foram a “Exposição de Arte Sacra Moderna” (1956 e 1960); o concurso do anteprojeto para a construção da Sé de Bragança e a apresentação em Portugal da exposição itinerante “Novas Igrejas na Alemanha”. Ao longo da sua carreira Nuno Teotónio Pereira recebeu vários prémios de arquitetura que dão testemunho da altíssima qualidade do seu trabalho criador: Prémio da I Exposição Gulbenkian, 1955, com o Bloco das Águas Livres; 2o Prémio Nacional de Arquitetura da Fundação Gulbenkian, 1961; Prémio AICA de 1985, Prémios Valmor de 1967, 1971, 1975, respetivamente Torre de Habitação nos Olivais Norte, Edifício Franjinhas na Rua Braamcamp em Lisboa e Igreja do Sagrado Coração de Jesus, agora classificada como monumento nacional. Uma história curiosa, que atesta bem como a arte e a dimensão moral do percurso de Nuno Teotónio Pereira se conjugam para constituir uma fecunda Árvore da Vida, está no facto de ter desenhado o sacrário da Igreja do Coração de Jesus na prisão de Caxias, onde estava retido por motivos políticos

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